No mercado imobiliário o entendimento a respeito das mudanças climáticas é fundamental, tendo em vista que os imóveis construídos em determinado local, não podem ter sua localização alterada e ficam expostos ao clima. Para ter um planejamento nesse sentido, o TCFD, estabelecido em 2015 a partir do G20, tem como objetivo fornecer informações sobre os riscos financeiros relacionados ao clima para as empresas gestoras e proprietária de ativos imobiliários. Você já sabe quais são as recomendações do TCFD?

Mudança climática, segundo definição das Nações Unidas, se refere a transformações de longo prazo nos padrões de temperatura e clima.

Essas alterações podem ser naturais, mas desde o século 18 as atividades humanas têm sido a principal causa das mudanças climáticas, principalmente por causa da queima de combustíveis fósseis, que produzem gases que retêm o calor.

Toda boa empresa que se preze e esteja interessada em perpetuar suas atividades e impactos positivos, inclusive financeiros, deve conhecer e avaliar o impacto das mudanças climáticas no seu plano de negócios, na sua previsão de receitas, de custos e em seus ativos.

No mercado de real estate, esse entendimento se torna particularmente ainda mais importante, uma vez que usualmente construímos casas, edificações e empreendimentos para durar por pelo menos 50 ou 60 anos, com localização imutável e grande sensibilidade ao clima e eventos climáticos.

Muitos estudiosos e cientistas têm se dedicado a tentar entender de que forma as mudanças climáticas já estão acontecendo, e principalmente prever o que acontecerá nos próximos anos e décadas.

Com diversos cenários propostos, e prováveis imprevisibilidades, como nos prepararmos e nos planejarmos para cuidarmos das nossas famílias, sociedades, empresas e ativos?

Para ajudar as empresas e organizações a responderem essa pergunta, o TCFD, sigla para Task Force on Climate Related Financial Disclosures, ou em português, Força-Tarefa sobre Divulgações Financeiras Relacionadas ao Clima, se destaca como a principal fonte de informações, ferramentas e governança.

O TCFD foi estabelecido em 2015 pelo Financial Stability Board, órgão criado pelo G20, para desenvolver um conjunto de recomendações voluntárias e consistentes de divulgação para as empresas usarem ao fornecer informações sobre seus riscos financeiros relacionados ao clima. Essas informações foram elaboradas para se concentrar nos aspectos das mudanças climáticas que são materiais especialmente para os stakeholders financeiros.

O objetivo do TCFD é fornecer uma estrutura sistemática para os investidores abordarem riscos e oportunidades relacionados ao clima em seus processos de investimento, baseada em 4 pilares:

  • Governança: a governança da organização acerca de riscos e oportunidades relacionados ao clima;
  • Estratégia: os impactos reais e potenciais dos riscos e oportunidades relacionados ao clima nos negócios, estratégia e planejamento financeiro das organizações;
  • Gerenciamento de Riscos: os processos utilizados pelas organizações para identificar, avaliar e gerenciar riscos relacionados ao clima;
  • Métricas e Metas: as métricas e metas usadas para avaliar e gerenciar riscos e oportunidades relevantes relacionados ao clima.

Mas afinal de que riscos estamos falando? Estamos falando tanto dos riscos físicos, resultantes das mudanças climáticas, quanto dos riscos de transição, resultantes da transição para uma economia de baixo carbono. Os riscos físicos ainda podem ser divididos da seguinte forma:

  • Riscos agudos: exposições causadas por eventos, incluindo o aumento da gravidade de eventos climáticos extremos (ciclones, furacões, inundações etc.);
  • Riscos crônicos: mudanças de longo prazo nos padrões climáticos (por exemplo, temperaturas sustentadamente mais altas) que podem causar aumento do nível do mar ou ondas de calor crônicas, entre outros.

Já os riscos de transição para uma economia de baixo carbono se apresentam da seguinte maneira:

  • Riscos de política e legais: a evolução dos regulamentos e potenciais riscos de litígio ou legal;
  • Riscos tecnológicos: melhorias ou inovações tecnológicas que apoiam a transição para um sistema econômico de baixo carbono e eficiência energética;
  • Riscos de mercado: os efeitos das mudanças climáticas na oferta e na demanda;
  • Riscos de reputação: mudanças nas percepções do cliente ou da comunidade relacionadas a considerações climáticas.

Por fim, para o mercado imobiliário e alinhadas também ao reporte do PRI – Principles of Responsible Investment (tema do artigo anterior desta série de artigos sobre o tema ESG no mercado de real estate), destaco de forma objetiva e direta os seguintes passos práticos para implementação das recomendações do TCFD nas empresas gestoras e proprietária de ativos imobiliários:

  • Conduzir treinamento e sensibilização sobre os fatores climáticos para os times relevantes;
  • Participar de workshops e iniciativas de incorporações climáticas intersetoriais;
  • Definir responsabilidades de supervisão climática no nível executivo e do board;
  • Definir responsabilidades de avaliações e gestão dos fatores climáticos na construção da estratégia e processo de investimento;
  • Desenvolver / Selecionar uma gama de cenários climáticos (qualitativo /ou quantitativo);
  • Integrar os resultados das análises de cenários na estratégia de investimento e plano de negócios;
  • Testar a resiliência dos investimentos e portfolios para os cenários selecionados;
  • Avaliar a materialidade dos impactos e oportunidades climáticas utilizando análises dos cenários e do setor;
  • Introduzir componente climático no due diligence de pré-aquisição, e nos reports de venda antes da saída;
  • Identificar ativos com as maiores exposições e conduzir análises aprofundadas;
  • Definir e apoiar a implantação do plano climático no nível do ativo imobiliário;
  • Definir metas para riscos e oportunidades climáticas chave;
  • Identificar métricas centrais para avaliar o progresso em direção às metas, às realizações dos planos de gestão de riscos, e ao sucesso da estratégia geral.

Artigo de João Marcello Gomes Pinto – CEO & Fundador da Sustentech

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