Empresa responsável por marcas como Duratex, Hydra e Portinari se propõe a oferecer soluções mais sustentáveis para o ramo de construção civil
Na última semana, durante os dias 14 a 17 de março, a São Paulo Expo recebeu a Expo Revestir, uma feira promovida pela Associação Nacional dos Fabricantes de Cerâmica para Revestimentos, Louças Sanitárias e Congêneres (Anfacer). Ali, nos mais de 60 mil metros quadrados do local, estava localizada a Cidade Dexco, com mostras e estandes especiais sobre as louças, madeiras e revestimentos oferecidos pela marca.
A antiga Duratex, agora Dexco, começou suas atividades há mais de 70 anos. Hoje, a companhia conta com 18 plantas em 16 cidades diferentes com 13 mil funcionários e une marcas como Deca, Portinari, Hydra, Duratex, Castelatto, Ceusa e Durafloor. Durante entrevista para a EXAME ESG, o CEO da Dexco, Antonio Joaquim de Oliveira, disse: “O caminho da construção em direção à sustentabilidade não é só um tema de marketing ou de atratividade, mas é um tema de sobrevivência, porque ele vai combater essencialmente o desperdício, vai tender a ter obras mais rápidas e eficientes em termos de consumo de capital de consumo de materiais”.
Mas, ainda há muito o que se desenvolver no ramo de construção quando o assunto é sustentabilidade. Pensando em ter um feedback dos consumidores sobre seus hábitos de consumo, a Dexco, realizou uma pesquisa no segundo semestre de 2022, com apoio da consultoria Talk, onde ouviu duas mil pessoas em Belo Horizonte, Goiânia, Porto Alegre, Salvador e São Paulo. Segundo os resultados do levantamento, a praticidade dos produtos e a sustentabilidade foram apontadas como prioridades para os consumidores na hora de escolherem produtos para as casas.
A história da empresa, que é controlada pelo grupo Itaúsa, tem início no ramo de madeiras com a produção de painéis de madeira pela Duratex, enquanto a Deca era responsável pela produção de louças e metais sanitários. A partir de 2017, a empresa inicia seu processo de diversificação, adquirindo duas empresas da área de cerâmica plana: a Ceusa, a Cecrisa, que tinha a marca Portinari, que produzem pisos e azulejos. A empresa também tem projetos em celulose solúvel.
Em 2020, a empresa começou a redefinir a estratégia de sustentabilidade adotada e, impulsionada pelo lançamento da nova marca corporativa, quando a Duratex se tornou Dexco no ano de 2021, a companhia abraçou o propósito de oferecer novas soluções para os clientes, dando atenção às pessoas. De forma a unir gestão consciente a um olhar focado na entrega de produtos e processos mais sustentáveis, com uso de economia verde e priorização da diversidade.
Hoje, a empresa atua em quatro ramos: painéis de madeira e florestas, celulose solúvel, louças e metais sanitários, além de revestimentos cerâmicos. “Nossa missão é ser uma empresa de marcas consolidadas e líderes no segmento de acabamentos para construção”, apontou Antonio Joaquim. Segundo Guilherme Setúbal, gerente de ESG da Dexco, a companhia foi uma das primeiras empresas de capital aberto a ter um comitê de sustentabilidade formado por especialistas, diretores da companhia e membros do conselho de administração, criado oficialmente em 2011.
Pensando nisso, um dos pontos essenciais para a empresa é a questão da cultura, que são embasadas nos pilares de bem-estar, impacto e cuidado e, a partir disso, três ambientes são priorizados. “A Dexco tem um grande framework apoiado em três grandes ambientes: a sociedade, ao ambiente consumidor, e metas ligadas às empresas”, afirma Setúbal. Ao todo, a Dexco conta com 16 metas para sustentabilidade, que acompanham os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU (Organização das Nações Unidas), dentre elas, metas voltadas para redução de emissões de carbono, investimentos em inovação, digitalização da companhia e mais.
Metas sustentáveis apoiadas pelo negócio
“Que legado estou deixando?”, essa pergunta movimenta as camadas da empresa. Uma das metas, por exemplo, é que, em um período de 10 anos, a Deca economize 900 milhões de m² de água com os produtos da marca até 2025. Para isso, a companhia conta com redução de consumo de água nos produtos – o que corresponde, segundo Setúbal, ao consumo de água da cidade de São Paulo durante o período de um ano.
Esse exemplo se conecta ao pilar “sociedade” porque, ainda de acordo com o gerente, mesmo aqueles que não consomem produtos poderiam ser beneficiados pelo impacto positivo de economia de água e redução do consumo dos produtos como os redutores de chuveiro e as banheiras da marca.
Antonio Joaquim comenta que a empresa também conta com a preservação e plantio de florestas, que começou há 60 anos com a expansão das atividades de painéis de madeira. “Com isso, resolvemos construir florestas próprias, que respondem por 100% do nosso abastecimento”, disse Antonio Joaquim.
“Temos, com certeza, mais de 30 mil hectares de florestas nativas preservadas junto as nossas florestas plantadas, é um peso importante ter essa visão do controle da matéria-prima e, por consequência trabalhar a florestas de forma sustentável com foco na preservação. Sustentabilidade é sobrevivência da empresa a longo prazo”. De acordo com Setúbal, a legislação diz que é necessário ter 20% de floresta nativa, enquanto a empresa tem mais de 30% – contando com um excedente.
Ainda no tema de manejo sustentável, a Dexco conta com a certificação FSC, conhecida também como selo verde, esse certificado praticamente atesta a sustentabilidade em toda a cadeia, que conta com aspectos como boa relação com a comunidade e funcionários e relação saudável com o solo. “A Dexco é a primeira empresa do hemisfério sul a ter esse certificado, em 1995”, aponta Setúbal.
Outra meta da empresa é pensar em logística reversa, geração de resíduos e economia circular. Desde o ano passado, a empresa tem como meta fazer logística reversa em 100% das embalagens produzidas, enquanto a legislação obriga a fazer 22% em alguns estados. “Essa foi uma decisão do comitê da Dexco de fazer 100% de embalagens em todos os estados, ou seja, mais do que a nossa obrigação legal”, comentou Setúbal.
A empresa ainda investe em um corporate venture chamado DX Ventures, para empresas do ecossistema empresarial com 140 milhões de capital já investidos. Hoje, a companhia investe em três empresas: Brasil Ao Cubo, Noah e Urbem, essas três empresas contam com projetos modernos, que trabalham as noções sustentáveis como gestão de resíduos, por exemplo.
“Quando pensamos no ambiente “empresa”, temos metas, por exemplo, de ter 35% de mulheres na liderança até 2025. Hoje, nós já temos 30% de liderança. 35% corresponde à 1/3 de uma empresa que, se você pegar o retrato de 15 anos atrás, não ia chegar nem 10% de mulheres na liderança”. Setúbal explica que essas metas empresariais são apoiadas por meio de programas de ações afirmativas em parcerias com os negócios.
O gerente comenta que a diversidade tem o poder de adicionar um olhar diferente e mais moderno para a companhia. “Essa é uma meta de todos da companhia que entendem que a diversidade é um valor que vai adicionar valor para a companhia, que era uma empresa, até então, muito masculinizada, uma empresa industrial, de engenheiros. Trazer esse novo olhar é muito importante”, afirma.
Atuação do Nordeste ao Sul
Com atuação do extremo Sul ao Nordeste, passando por cidades como Aracajú, Itapetininga, Paraíba, Recife, Santa Catarina e São Paulo, que abrigam plantas das empresas da Dexco, Setúbal ressalta que a companhia tenta entender as características únicas aos espaços onde está inserida. A companhia conta ainda com as rodas de diálogo, que são conversas anuais com o intuito de promover uma escuta ativa para os membros da comunidade. Depois disso, são traçados planos de ação para cada comunidade específica para entender o impacto positivo ou negativo da fábrica. “Temos que entender as demandas locais para poder entender como podemos impactar as comunidades”, comentou.
Cada cidade tem sua necessidade. Por isso, os projetos são diferentes para cada local. Um dos mais recentes é o Projeto Soma, que começou em 2022, em parceria com a Gerdau e Grupo Votorantim, onde a Dexco usa capital próprio da companhia para apoiar a mobilidade urbana em São Paulo. Um prédio será construído com a possibilidade de um “aluguel social”, um aluguel com valor menor do que seria um típico aluguel no centro de São Paulo. Tudo isso é feito através do Certificado de Recebíveis Imobiliários (CRI), onde a Dexco e a Gerdau são as maiores financiadoras do projeto.
“Temos uma pegada industrial importante em todo o país. Procuramos dar foco nas ações sociais, primeiramente nas comunidades locais, nas comunidades onde estamos inseridos. Trabalhamos temas como educação ambiental, água e, também, claro, participamos ativamente de verificar onde os colaboradores estão inseridos para também desenvolver projetos”, afirmou Antonio Joaquim. Além disso, a Dexco trabalha acessibilidade para banheiros, por exemplo. “Existe toda uma linha pensada para isso, usada em hospitais e locais públicos. Tem todo um portfólio que atende, com barras, assentos diferenciados, torneiras acessíveis”, afirma o CEO.
Economia de água e emissões de carbono
Dentro do seu portfólio de produtos, a Deca, por exemplo, conta com torneiras e misturadores – da linha Deca Comfort – que economizam até 60% por meio de um dispositivo presente no produto que ajusta a vazão de água e pressão. Já o Filtro da Deca permite que o consumidor consuma o equivalente a 75 galões de água por meio de um refil de 1,5 mil litros. O que evita o desperdício de plástico e as emissões de carbono por parte do transporte ao transportar o produto à casa do consumidor.
Segundo a companhia, chuveiros eletrônicos permitem a economia de energia em até 91%, pois é possivel ajustar a potência do chuveiro de acordo com a temperatura desejada e os produtos Hydra contam com essa tecnologia. Além disso, os revestimentos da marca Portinari tem uma certificação norte-americana chamada Floor Score e Indoor Air Quality (SCS), que atestam que os produtos não produzem carbonos voláteis e contribuem para amenizar a temperatura interna dos ambientes. E, por fim, Setúbal afirma que as fábricas de cerâmica utilizam 90% de água de reuso. “O setor caminha para ter uma construção mais rápida e sustentável. Mas existe um longo caminho a ser percorrido”, conclui Antonio Joaquim.
Fonte: Exame